quinta-feira, 24 de junho de 2010

Renato Russo - Cantor, compositor e poeta.

"Eu vou falar de mim (...)
Eu sou do signo de áries.
Eu nasci no Rio de Janeiro.
Eu gosto da Billie Holiday e dos Rolling Stones.
Eu gosto de beber pra caramba de vez em quando. Também gosto de milkshake.
Eu gosto de meninas, mas eu também gosto de meninos.
Todo mundo diz que eu sou meio louco.
Eu sou um cantor numa banda de rock'n roll.
Eu sou letrista e algumas pessoas dizem que eu sou poeta".
Fala de Renato Russo durante um show no Rio de Janeiro, em 07 de julho de 1990.



Falar sobre Renato Russo não é fácil. Dono de uma voz inigualável, e de uma inteligência incrível, pra mim é um dos melhores - se não o melhor! - compositor brasileiro. Ele é a razão pela qual vários jovens (eu) se questionam: Porque eu não nasci nos anos 70? Porque não existem mais bandas de rock como antigamente?
Não queria voltar à esse ponto, e sei que cada época tem a sua fase, seu momento, sua música, mas o que é cine? O que é restart? O que são todos esse funks com três palavras que invadem as ruas e saem pela boca das crianças? O que são essas músicas promíscuas que tocam nos carros?
Alguns valores que não deveriam nunca mudar, estão se perdendo. Música não foi feita só pra ser tocada, pra ser cantada. Acima de tudo, música é arte, música é poesia, música é história.
E convenhamos que não é isso que música é hoje em dia.

Sinto falta de bandas como Legião Urbana foi. Feliz foi meu pai, pôde viver na mesma época que os caras, pôde ir em show, pode dizer que durante na juventude, foi esse tipo de música que o influenciou. Ele têm orgulho, e eu também teria.
Não tenho orgulho de dizer que Replace é o tipo de "rock" (como chamam isso de rock? algumém me explica?) que eu cresci ouvindo (é o tipo de coisa que a geração 10-12 anos estão ouvindo no momento).



Voltando à falar sobre música boa, me fala que tipo de compositor consegue misturar um poema Camoniano com a primeira carta de São Paulo aos Corintios?

Poema de Camões:
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

E a Epístola de S. Paulo aos Coríntios:
É no capítulo 13 da epístola que Paulo fala grandiosamente sobre o amor:



Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.





E então, por Renato Russo, foi criado Monte Castelo:
Ainda que eu falasse                     É cuidar que se ganha
A língua dos homens                     Em se perder...
E falasse a língua dos anjos         É um estar-se preso
Sem amor, eu nada seria...          Por vontade
É só o amor, é só o amor             É servir a quem vence
Que conhece o que é verdade     O vencedor
O amor é bom, não quer o mal    É um ter com quem nos mata
Não sente inveja                            A lealdade
Ou se envaidece...                        Tão contrário a si
O amor é o fogo                            É o mesmo amor...
Que arde sem se ver                    Estou acordado
É ferida que dói                            E todos dormem, todos dormem
E não se sente                              Todos dormem
É um contentamento                    Agora vejo em parte
Descontente                                 Mas então veremos face a face
É dor que desatina sem doer...  É só o amor, é só o amor
Ainda que eu falasse                   Que conhece o que é verdade...
A língua dos homens                   Ainda que eu falasse
E falasse a língua dos anjos       A língua dos homens
Sem amor, eu nada seria...        E falasse a língua dos anjos
É um não querer                          Sem amor, eu nada seria...
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente



é o tipo de música que me arrepia só de ouvir.

Eu poderia ficar aqui falando das muuuitas músicas maravilhosas que Renato Russo e sua turma compuseram e cantaram, podia mesmo! Mas vou destrinchar as músicas aos poucos. Só Monte Castelo já nos dá muito o que refletir sobre.

Mas é isso.
E viva o rock DE VERDADE.

2 comentários:

Kelly Araujo disse...

hummm Anna, esse é um assunto que eu adoro: Música. Anos de estrada/na estrada com músicos(...)! rs
Antes o rock era atitude, Legião Urbana, Plebe Rude, Inocentes... letras que falavam de amor, de protestos, letras que enfiavam o dedo na cara das pessoas. Até as roupas eram atitude.
Hoje, não que o rock tenha ficado "bonzinho", é que o rock ficou comercial...Legião Urbana hoje em dia não seria vendável. Roupas pretas e comisetas de bandas? Nem pensar! O negócio são os coloridos (nada contra cor, tudo contra essa bagunça idiota), happy rock? =/ wtf?
Funk carioca é lixo sonoro. Porque Funk mesmo quem faz é o James Brown, o Kc, o Jamiroquai, o Black Rio (é uma banda nacional bem legal), essas tem um groove incrível!
Bom, eu sou a geração dos 30, Legião, Plebe, Cazuza, Barão e por ai vai, mas claro que também muita coisa atual é boa sim e eu gosto demais também.
Mas o rock mesmo só precisa de 3 acordes como fazia o Ramones...
E olha, se o Renato ja achava que o Mundo andava tão complicado naquela época... que bom ele não estar aqui pra ver isso hoje.
Esse foi o "letrista" mais foda que ja existiu.
Beijins!

Daniel Zenitto Jr disse...

O problema de muitas coisas se chama capitalismo, antes o rock era manifestação, poesia, não importa se iria vender ou não, tanto é que o legião urbana não foi a primeira banda de Renato, Faroeste Caboclo a primeira vez que foi tocada, foi vaiada, e nem sequer conseguiram terminar a música, que anos mais tarde faziam todos pensar naquele tal João, que sofreu, que amou, que perdoou...Marvin dos Titãs, sofreu da mesma síndrome e até hoje quando ouço faz lembrar-me de minha família...
o Rock virou comércio, o que importa não é manifestação que vem do coração, da alma, do pensar daqueles poetas, o rock agora vem do que vende, do que nos trará lucro,,, o depois,,, o depois inventamos outros grupos, outras bandas... gosto muito de Engenheiros, que tinham a separação do sul do país como bandeira...enfim, todos eles tinham uma razão de existir e não de subsistir...Renato com sua alusão aos políticos,,,Cazuza com sua maneira de chamar atenção as pessoas que vivem acompanhadas mas solitárias...ideologia...parabéns meu anjo.. por essa maneira de escrever, de expor que está dentro de ti, de dizer que não aceita...são de pessoas assim que o mundo precisa para que possa rever seus conceitos, pré-conceitos e preconceitos...beijos DEUS ABENÇOE

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