terça-feira, 23 de novembro de 2010

Alis Grave Nil - Nada é pesado quando se tem asas



A pomba, que por medo do gavião, se recusasse a sair do ninho, já se teria perdido no próprio ato de fugir do gavião. Porque o medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já nesse ato estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se ama.

Mas logo o pequeno pássaro começará a ensaiar seus vôos incertos. Agora não serão mais os braços do pai, arredondados num abraço, que irão definir o espaço do ninho. Os braços do pai terão de se abrir para que o ninho fique maior. E serão os olhos do pai, no espaço que seus braços já não podem conter, que irão marcar os limites do ninho. A criança se sente segura se, de longe, ela vê que os olhos do seu pai a protegem. Olhos também são colos. Olhos também são ninhos. “Não tenha medo. Estou aqui! Estou vendo você“: é isso o que eles dizem, os olhos do pai.

Para voar é preciso amar o vazio. Porque o vôo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

Curioso: nós, humanos, somos os únicos animais a ter prazer no medo. A colina suave não seduz o alpinista. Ele quer o perigo dos abismos, o calafrio das neves, a sensação de solidão. A terra firme, tão segura, tão sem medo, tão monótona! Mas é o mar sem fim que nos chama: "A solidez da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão. Queremos a ilusão do grande mar, multiplicada em suas malhas de perigo...

Esse é o destino dos pais: a solidão. Não é solidão de abandono. E nem a solidão de ficar sozinho. É a solidão de ninho que não é mais ninho. E está certo. Os ninhos deixam de ser ninhos porque outros ninhos vão ser construídos. Os filhos partem para construir seus próprios ninhos e é a esses ninhos que eles deverão retornar.

No crepúsculo, quando a noite se aproxima, o vôo dos pássaros fica diferente. Em nada se parece com o seu vôo pela manhã. Já observaram o vôo das pombas ao fim do dia? Elas voam numa única direção. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crepúsculo, são simples. Simplicidade é isso: quando o coração busca uma coisa só.

A maior solidão é a do ser que não ama.
A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida.
A maior solidão é a do ser encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

Alis Grave Nil - Nada é pesado quando se tem asas.
Voando Para o Alto
Cia de Teatro Tal&Pá - 2010

O último vôo.

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sombra do passado
Assombram a paisagem.

Não é fácil ter que se despedir de alguém.

Não é fácil desprender-se daquilo que se ama...



Quando decidi fazer parte da Cia de Teatro Tal&Pá, eu apenas pensava que seria um desafio passar uma temporada lá. Eu estava errada. O real desafio é ter que sair depois.

Quando se cria um laço afetuoso, um vínculo, uma paixão, doi demais ter que se desfazer dela...
E eu ví, e senti essa dificuldade neste último domingo.
Dia 21/11 nosso Fernão, Francisco, e todas as outras gaivotas voaram pela última vez. Pelo menos eu, durante a última apresentação, ainda não tinha entendido que aquela era realmente a última vez. Era só aquela. Dalí pra frente, só na nossa memória.

"Nós nos veremos de novo, meu amigo, nós nos veremos de novo..."



Quando acabou, tudo que eu conseguia pensar era "não pode acabar, não agora.".

Mas era chegada a hora.
Não só tinha acabado a temporada de Voando Para o Alto, mas também a minha participação no grupo.
E ir até o centro do círculo, na frente daquelas quase quarenta pessoas que foram minha família este ano, e ter que dizer adeus, foi difícil.
Na verdade, difícil é uma palavra com uma dimensão muito minimizada para expressar o que realmente se sente naquele momento.

Depois da despedida, o grito de guerra.
TAL & PÁ / TAL & PÁ / TAL & PÁ / YEAH! VÁ.
Foi o último . E se foi pra sempre.



Mas aquilo realmente não foi o pior. O mais doloroso foi o momento de tirar nossas asas.
"quando vocês terminarem, vão descobrir que ainda podem voar sem elas"

Foram tantas alegrias ao vestir as luvas durante tantas apresentações, que foi revertida em tristeza na hora de tirar a magia do vôo daqueles simples panos. Aquelas bandeiras, que foram nossas asas, agoras são apenas pedaços de pano...
Chorei muito. Porque doia de verdade.

"vocês ainda podem voar sem elas..."


Sim, nós podíamos, e podemos. Mas era tão mais legal voar com o grupo.
Mas a hora de deixar o ninho para voar por sí só.

Tantos momentos, tantas histórias, tantas risadas, tantas discussões, tantas coisas, que agoram só ficaram gravadas na memória.
Inesquecíveis, é claro.
Guardadas pra sempre.



Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.


2010 sem dúvida foi um ano muito importante pra mim. Tantas coisas aconteceram, todas importantes e singluares, mas só agora, no final do ano, que vendo numa perspectiva maior, posso dizer com convicção que o que marcou, foi sem dúvida, o Tal&Pá.

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.


O melhor de tudo não é o que passou, mas sim o que ficou.
As lembranças.
As amizades.
Sim, eu fiz amigos de verdade. Pessoas que sei que posso contar quando precisar.
Ganhei novos irmãos.



A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.

Só tenho que agradecer a todos que de alguma forma contribuiram pra isso.
Muito obrigada!
Eu NUNCA vou esquecer.



TAL&PÁ ♥

terça-feira, 9 de novembro de 2010

de onde vêm? Parte I

De onde surgiram essas expressões?
Diariamente ouvimos expressões populares usadas para definir uma situação ou ação.
Quem nunca "olhou para o passarinho" na hora de tirar uma foto?
Entenda porque você fez isso tudo e um pouco mais...
 .-.

Olha o passarinho!


Uma fotografia hoje é produzida em milésimos de segundos, até mesmo pelos mais simples telefones celulares. Mas há mais de um século quando essa arte surgiu, os equipamentos fotográficos demoravam alguns minutos para fixar a imagem no filme. Nos retratos individuais ou de grupos de pessoas havia a necessidade delas posarem paradas durante esse tempo e quando tinham crianças envolvidas a dificuldade era ainda maior, pois havia a necessidade de prender a atenção delas e mantê-las olhando em direção à câmera.

Para fazer isso, os fotógrafos recorriam a um inusitado expediente: colocavam uma gaiola com passarinhos ao lado da câmera e na hora de fotografar soltavam a frase: "olha o passarinho". A expressão se popularizou e continua a ser usada para chamar a atenção das pessoas.

A Vaca foi pro brejo

 
Normalmente em tempos de estiagem, as vacas saem em busca de água e podem entrar em áreas pantanosas, o que as leva muitas vezes a acabarem presas no lodo. Esse fato pode ocorrer também fora de épocas de secas, em regiões com muitas áreas alagadas. Atoladas, elas começam a afundar, não conseguem sair e acabam morrendo afogadas ou por inanição. Somente com a ajuda humana é possível tirar o animal dessa situação. Para os criadores de gado, a vaca ir para o brejo representa prejuízo certo. Assim, quando as coisas não dão certo ou quando algo ruim acontece popularizou-se usar a expressão "a vaca foi pro brejo".

Fazer uma vaquinha


Normalmente quando um time de futebol profissional vence um jogo importante, seus jogadores acabam recebendo uma premiação em dinheiro, o "bicho". Na origem dessa prática está o surgimento de outra expressão popular: "fazer uma vaquinha". Tudo começou nos anos 1920, no Rio de Janeiro, quando a torcida do Vasco da Gama resolveu estimular os jogadores a vencerem os jogos. Para isso, estabeleceu um incentivo monetário baseado nos números do jogo do bicho. O número cinco, do cachorro, representava cinco mil réis de premiação por um empate. O dez, do coelho, dez mil réis por uma vitória comum. E o 25, da vaca, 25 mil réis por uma vitória em jogos decisivos. Assim, a arrecadação do dinheiro do "bicho" dos jogadores pelos torcedores ficou conhecida como "fazer uma vaquinha".


Afogar o ganso

Você pode achar que essa expressão é só uma forma mais engraçada de referir-se ao ato sexual, do ponto de vista masculino. Mas há versões populares que atribuem a origem do termo a um costume na China em que os homens mantinham relações sexuais com gansos e antes da ejaculação afogavam a ave para que ela tivesse mais contrações.

Já a versão criada por Mário Prata, no livro "Mas Será o Benedito?", diz que a expressão foi um eufemismo usado por Dom Pedro 1.º em suas cartas para a Marquesa de Santos para referir-se às relações sexuais dos dois, driblando a censura imposta a essas correspondências pelo pai de Dom Pedro.

Lavar a égua

Tomar banho de champanhe após vencer uma corrida não é um costume que começou com os pilotos da Fórmula 1. Bem antes disso, quando uma égua vencia um páreo numa corrida de cavalos o bichinho já era saudado com um banho de espumante. Essa regalia era exclusiva da égua, já que seu semelhante do sexo masculino não recebia o mesmo tratamento.



Assim, a prática dos donos do equino vencedor simbolizava que eles haviam ganhado uma boa grana de premiação e, por conta disso, a expressão "lavar a égua" popularizou-se como sinônimo de ganhar bastante dinheiro


 
Tirar o cavalo da chuva


Há algumas versões ligeiramente diferentes para a origem dessa expressão. Para boa parte dos pesquisadores ela surgiu de um costume da época em que o cavalo era o principal meio de transporte no interior do país. Naqueles tempos, quando alguém ia fazer uma breve visita a um parente, amigo ou vizinho, normalmente "estacionava" seu cavalo em frente à casa em uma área descoberta. No entanto, se a conversa se alongava mais do que o esperado era comum o anfitrião falar para o visitante ir "tirar o cavalo da chuva", isto é, abrigá-lo em um local protegido, pois a visita iria demorar mais do que o imaginado. Com o passar do tempo, a expressão caiu no gosto popular. "Tirar o cavalo da chuva" significa desistir de algo, perder as esperanças ou a indicação de que alguma coisa vai demorar mais do que o previsto.

 

Lágrimas de crocodilo



Elas realmente existem e surgem quando o crocodilo passa muito tempo fora da água, fazendo com que suas glândulas produzam uma secreção lacrimal para lubrificar seus olhos. Elas também podem aparecer quando no ato de mastigar sua presa o animal pressiona as glândulas lacrimais. Em ambos os casos, as lágrimas de crocodilo são o resultado de um processo biológico e não têm nada a ver com uma possível tristeza que o réptil estaria "sentindo" naquele momento. Com o passar dos anos, a sabedoria popular consagrou a expressão "lágrimas de crocodilo" como sinônimo de todo choro que parece fingido ou hipócrita.



Dar com os burros n'água


Credita-se a expressão à moral de um conto que remete a um fato comum na época colonial no Brasil: o uso dos burros para o transporte de cargas. O conto popular narra a disputa entre dois tropeiros para ver quem chegava primeiro a um destino. Um deles deveria usar o burro para transportar sal, enquanto o outro transportaria algodão com o animal. Só que no meio do caminho havia um rio e ao tentarem atravessá-lo, ambos perderam as cargas - o sal dissolveu-se e o algodão encharcou - e eles não conseguiram concluir a missão. Por conta disso, quando alguém é mal-sucedido em seus objetivos, usa-se a expressão "dar com os burros n'água



A cavalo dado não se olha os dentes

Sua mãe provavelmente ensinou a nunca desdenhar daquilo que você recebe de presente. Se um dia você ganhar um cavalo, por exemplo, nunca olhe a arcada dentária do animal na frente de quem te deu. Isso por que os dentes do cavalo não nascem de uma vez, sendo que os últimos só surgem no quarto ou quinto ano de vida do animal. Assim, olhar os dentes dele significa verificar qual a idade do equino, o que pode ser bastante deselegante. Na satírica visão de Mário Prata, no livro "Será o Benedito?", a expressão popular no entanto tem raiz histórica na avareza da família real portuguesa. Ao chegar ao Brasil, fugindo das tropas de Napoleão, Dom João 6.º teria usado cavalos em péssimo estado como moeda de troca. E a quem reclamava ele usava a expressão "a cavalo dado não se olham os dentes".